- Local Curitiba, PR
- Status Obra Concluída
- Projeto 2020-2023
- Fotos Eduardo Macarios, Vitória Berticelli
Da banalidade surge a potência das Casas AV+2F. Pautadas pela simetria, pela repetição e pelo ritmo, elas possuem estruturas e técnicas construtivas simples (oferecendo segurança de custo e facilidade para o processo da obra). Ao mesmo tempo, a partir dessa premissa, o projeto pôde subverter a estética convencional de fachada residencial. Quem por ali passa, se depara com a estranheza de frentes incomumente fechadas, avessas ao imaginário da casa com janelas e portas bem marcadas. Já quem toca a campainha e entra para um café, vai descobrindo as muitas circulações e aberturas do espaço e seu forte diálogo com o jardim aos fundos.
À primeira vista marcadamente encerradas em si, as construções se abrem generosamente para a natureza e o sol (a face norte está aos fundos do terreno). Tal inversão entre fachada e fundos oferece, ainda, mais privacidade aos moradores, racionaliza o aproveitamento da iluminação natural e cria uma conexão natural entre interior e exterior (jardim). As tantas aberturas também surgem nos andares superiores, de área íntima, em que um corredor contém um pequeno pátio (proporcionando um contato contemplativo com a natureza); ou uma escada nos leva ao terraço com vista livre para a cidade. Sobretudo, não queríamos que um corredor fosse apenas isso, mas que circular pelas casas fosse interessante e agradável.
As bases do projeto, com plantas rigorosamente organizadas e simétricas, também atuam para que as duas casas no mesmo terreno, projetadas para duas gerações distintas de moradores, conversem esteticamente e formem um conjunto arquitetônico – seja pela materialidade do arenito como pela orientação dos cômodos e proporções que, ainda que distintas, se relacionam. Nesse sentido, o projeto transporta um artifício da arquitetura clássica – essa estrutura supostamente repetitiva – para a linguagem contemporânea, criando um ritmo agradável aos olhos e um certo silêncio sempre bem-vindo nos centros urbanos.
Mas esse é o final da história; no meio do caminho, o desafio foi seguir as regras estabelecidas pelas nossas próprias plantas, sabendo onde e como inserir pequenas surpresas, tal como uma escada amarela. Em meio a tantas possibilidades e desejos que cada projeto apresenta, alguns, como este, podem se mostrar verdadeiras encruzilhadas. Vale lembrar que elas, as encruzilhadas, também são os pontos que nos levam a novos lugares.