- Local Curitiba, PR
- Status Concluído
- Projeto 2019-2021
- Ano conclusão 2023
- Imagens Thiago Augustus
- Fotos André Nacli, Eduardo Macarios e João Vítor Sarturi
Um bom projeto de arquitetura nada mais é do que uma solução a determinados problemas. É comum, contudo, criar soluções antes mesmo de compreendermos profundamente a problemática envolvida no projeto. Quando isso ocorre, o projeto fica frágil e suscetível a questionamentos e mudanças e, na primeira brisa, pode virar de ponta cabeça. Por isso, entender os verdadeiros problemas, é criar uma base sólida para construção de ideias. Para que isso ocorra, a capacidade de auto crítica da equipe é fundamental. Temos que ter empatia com as pessoas que vão morar e conviver com aquela arquitetura, mesmo que isso nos faça destruir as nossas próprias ideias.
No projeto do jardim, esta fase foi bastante longa e intensa. Foram vários erros e estudos rasgados, que nos deparavam novamente com o papel em branco. Mas o bonito nesse processo, embora um pouco cliché, é descobrir o quanto é importante errar. Só assim aprendemos e conseguimos ter segurança de que encontramos um caminho.
O fato é que o terreno é grande e sua geometria é bastante irregular, o que cria muitas possibilidades de implantação. No início, como em todos os projetos, para que o empreendedor garanta um bom retorno ao investimento, tentamos aproveitar ao máximo o potencial construtivo do lote. Depois de muitos desenhos e maquetes, chegamos à conclusão de que a irregularidade do lote gerava a sensação do empreendimento estar apertado, um “peru no pires”, e esse era o problema.
Analisando as possibilidades junto com a incorporadora, concluímos que para melhorar, teríamos que diminuir o tamanho do edifício, eliminando alguns apartamentos. Era abrir mão de números para ganhar qualidade. Como a Idee não abre mão da qualidade, fez as contas de quanto poderíamos perder sem inviabilizar o empreendimento.
Com a decisão tomada, o projeto surge de maneira muito natural: da vontade de liberar espaço e ganhar proporcionalidade em relação ao lote. Queríamos a sensação de liberdade. Dito isso, a solução foi simples: adensamos os apartamentos em um bloco único. Quanto mais se concentra a edificação, mais espaço livre cria-se. Essa é a ideia!
O bloco único e a criação de um grande jardim, possibilitou dar qualidade a todos os apartamentos. Todos terão sol! Metade das unidades ficarão com vista para o MON e para o bosque, e a outra metade com a vista para o novo jardim criado. Na arquitetura, espaço livre é tão importante quando o edificado. Neste projeto, a conquista desse espaço teve tanta importância que acabou batizando o empreendimento, passamos a chama-lo de “Jardim”.
Com essa implantação, o terreno triangular, que antes era um problema, passa a funcionar perfeitamente, pois libera 30 metros livres na fachada, criando um grande distanciamento em relação aos vizinhos. A solução também possibilita que os apartamentos que estão voltados para o jardim possam ver a rua, o que é excelente, tanto para o morador quanto para a cidade.
A solução de implantação também passou a conduzir as demais decisões do projeto. Na fachada, criamos um grande jardim no recuo frontal, aberto, oferecendo esse espaço a cidade. A delimitação entre espaço público e privado é um muro de pedra, que serve como pedestal para a torre que surge sobre ele. As lajes se projetam para fora e marcam os andares, elas formam linhas contínuas que dão a volta no edifício, dando unidade a sua volumetria.
O grande jardim fica à direita de quem olha da rua, nele projetamos o acesso ao edifício e um pequeno espaço comercial, importante para dar vida aos 60 metros da fachada do empreendimento. O acesso é, como diria Le Corbusier, uma promenade architectural, um passeio pela arquitetura e pelo paisagismo desenhado pelo Rodrigo.
Ao passar pelo controle de acesso, pode-se observar a torre à uma certa distância, o que permite entender rapidamente o funcionamento do projeto. O visitante é conduzido a uma galeria aberta, com vista para o jardim. A galeria é marcada de um lado pelo ritmo dos pilares do edifício, e do outro pelas áreas comuns do condomínio, todas envidraçadas também voltadas para o jardim. Entre estes volumes de vidro estão também os acessos aos elevadores.
Portanto essa galeria tem um papel muito importante no projeto, ela é um grande conector, entre espaços internos e externos, entre o natural e o construído, entre áreas comuns e áreas privativas, entre luz e sombra. É uma referência à varanda da casa tradicional brasileira.
O bonito nessa história é contar que a arquitetura é um processo, é prática, é teimosia, é o trabalho de uma equipe em busca de problemas e soluções. Mas no Jardim, em particular, talvez estivéssemos um pouco mais obstinados que o normal. Deve ter sido aquele Olho, enorme, logo ali na esquina. Era como se o Oscar estivesse nos observando: não façam besteira!